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Prazer, eu sou a Lift: Lillian Vidigal

Aquela disruptiva Lift Branding & Design de que você se lembra é hoje uma “one-man-band”: a brander Lillian Vidigal Hastings. E aqui a gente te conta por que:

 

Antes dessa coisa (que já deu) de se falar em inovação, ela já era chamada pela própria mãe como “novidadeira”. Ainda pequena, fez alguns trabalhos como atrizinha mirim em comerciais. Foi ali, na frente das câmeras, que se encantou com esse mundo da propaganda, com a vibração de um set de filmagem e com tudo que era pensado antes das pessoas irem para trás das câmeras. Foi por isso que, enquanto ainda estava no colégio, foi estudar artes-plásticas, depois publicidade na Panamericana. Quando entrou em Design na Faap (em quarto lugar, pra orgulho dos pais), já era publicitária formada. Quando se formou em Design já tinha duas filhas e já ganhava a vida criando marcas – do design arrojado ao conceito bem estrategiado à aplicação consistente e elegante - para empresas de todo tipo, tamanho e segmento.  Quando terminou a pós em Marketing na FGV, sua empresa já era referência.

Foi a tal da “sorte”, talvez: a primeira marca que desenhou, recém entrada na faculdade, foi para uma nova empresa à qual o pai se associou, já faz quase trinta anos. Ficou legal. A empresa cresceu. O pai se aposentou mas a identidade visual da empresa é a mesma até hoje e continua bonita. Um cliente perguntava, um indicava pro outro... daí para se tornar a responsável por branding de grandes agências de publicidade, foi um piscar de olhos. E foi por isso que ela nunca quis trabalhar dentro de agência. Viu cedo os encantos e amarguras da vida de publicitário e ficou por ali, do lado. Perto mas longe. Como parceira, fornecendo um serviço específico que as agências precisavam entregar com maestria aos seus clientes, de quem cobravam dez vezes o preço pago à brander novidadeira.

Então foi por isso que logo que terminou a faculdade, ela abriu sua própria marca: a Lift. Era 2001. Foi pioneiríssima em Branding no Brasil. Tinha agência de publicidade que dizia que fazia, mas não sabia o que estava dizendo. Surgiam grandes grupos internacionais que tinham o seu braço de branding em terras tupiniquins, com aquela visão “imported” do “Market”. Tinha escritório de arquitetura que desenhava também – e muito bem – marcas e identidade visual. Tinha estúdio de design que fazia lindos liquidificadores, embalagens e também marcas. Tinha empresa de consultoria que levantava vários dados e sugeria muitas estratégias, mas não implementava nada. E tinha alguns designers geniais: Rafic Farah, Alexandre Wollner, Emilie Chamie, Cauduro, o D, o P e o Z. Mas um escritório SÓ de Branding, nacional e independente, criado do zero, que fizesse da estratégia ao conceito, do design à aplicação completa, não tinha. A Lift foi pioneira. E a Lift cresceu. E conquistou bons clientes. Grandes mesmo: multinacionais poderosonas. E contratou gente boa. E o cliclo se repetia. Só que com mais clientes, ainda mais legais, colaboradores ainda melhores, mais reconhecimento ainda do mercado, mais paixão ainda da fundadora por aquilo tudo, mais reconhecimento, mais prêmios pelo Brasil, mais viagens a Cannes, mais história pra contar....

Paralelamente, foi nascendo uma jornalista. Fabricar textos sempre foi outra paixão – ao lado do desenhar e designar. A primeira matéria foi um despretensioso relato de viagem que sem querer foi parar na capa da maior revista de turismo da época. O sucesso do texto rendeu novos convites para escrever sobre viagens, depois sobre vinhos, depois sobre arte... e essa era uma válvula de escape para uma Brander já meio farta do mundo corporativo, mas tocando o barco.

 

Daí veio a crise. Do país e pessoal. Pra quê aquilo tudo? Pra que estimular as pessoas a comprar mais? E a recessão se instalava no país. E com a crise veio um convite: um artista sobre quem ela havia escrito para uma revista encasquetou que a Lillian deveria ser sua nova dealer. Ela recusou: aquilo não era pra ela: “mercado estranho, esse da arte. Tem essa coisa da lavagem de dinheiro, editais, panelinhas, sei lá, tô fora.”. Mas acabou topando. Com a condição de que buscaria outros artistas para representar. Depois da primeira viagem em missão artística, à Biennale di Venezia de 2015, representando cinco nomes da arte contemporânea brasileira, constatou que Arte não era um business pra ela, e sim um prazer, como deve ser.

 

Só que a essa altura já tinha fechado a Lift. Já pipocavam recém-formados com seus escritórios de branding millenials. E os grandes grupos também já tinham aprendido a fazer branding direito. Ou seja: o mercado que eu desbravei já não era mais pra mim. É tipo aquela prainha deserta que você descobre e quando quer voltar já tem uma farofa instaurada, sabe? Não se justificaria começar aquilo tudo outra vez.

 

Resolveu dedicar um ano da sua vida a causas com que simpatizasse. Tipo um sabático #SQN: aceitar só ONGS e terceiro setor como clientes, com preços quase pro-bono. Ao invés disso, surgiu um convite para trabalhar no governo, como diretora de marketing da secretaria de esportes da São Paulo. Foi a chance de trabalhar para uma clientela de mais de 12 milhões de pessoas, sem nicho, vendendo um produto de qualidade inquestionável, que é o Esporte, na cidade onde nasceu e que ama. Foi legal, aprendeu muito sobre a máquina pública, fez coisas grandiosas, mas deu: um ano já tá bom de mais.

 

Começou a ajudar um ou outro amigo querendo mudar de carreira: uma boa conversa, um loguinho, material básico pra começar, uma bela foto de perfil, um mini-site... tudo bem arrematado e conceituado, tudo bonito e consistente e coerente... e voilà: tá aqui uma nova vida profissional.

E daí também se encantou com isso: essa capacidade de ajudar a fazer nascer novas personalidades. De colaborar com o empreendedorismo no país. Se encantou também com o fato de, com clientes pequenos e fazendo precinho amigo, não dava para contratar grandes equipes. Ela fazia tudo: briefing, orientação, conceito, estratégia, design, texto, foto, arte-final, acompanhamento de produção... tudo mesmo. Sozinha. E adorando o desafio constante da interdisciplinaridade. E na entrega, parecia trabalho feito por uma galerona boa. Daí um indica pro outro e a coisa anda sozinha. Daí velhos amigos se tornam novos clientes e clientes se tornam novos amigos... E tudo isso com a sensação de fazer bem algo relevante, e ainda por cima se divertindo.

 

É... já vi muita marca ser lançada, muita empresa nascer e crescer. Já vi mortes corporativas trágicas também e aprendi com elas. Sempre olhei para os humanos que fazem aquilo tudo: cliente é gente. cliente de cliente também é gente. Colaborador de todo mundo é gente que quer colaborar. E então hoje, naturalmente, o que eu faço é isso: transformo gente em marca.

 

E sobre ser novidadeira, sei lá. Cansei disso também, sabe. Muito mainstream, tipo aquela prainha deserta.

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